sexta-feira, 20 de maio de 2011

"Reza a lenda que a menina andava pela beira da praia recolhendo espelhos partidos, conchas amarelas e estrelas de cinco pontas. Chamava-se Ana, a menina de cândido semblante. As ondas induziam cavalos-marinhos a fazerem cócegas nos seus pés. A maré mudava de acordo com o relógio biológico dela. E os pescadores das redondezas costumavam consultar o horóscopo da menina antes de conduzir suas embarcações.
Corria a boca pequena que a paixão do mar por Ana sincronizava o ritmo e o som das águas. Era realmente um atrevimento, um despautério aquele caso de amor. Ninguém concordava ou achava possível que aquilo pudesse ter um final feliz. Eis, que certa vez, uma Ana decidida subira até o ponto mais alto da ilha. Estava resolvida, a menina. De cima da pedra: saltou.
Espalhou-se na imensidão que tanto a encatava. Conta a lenda que, deste dia em diante, o mar nunca mais foi o mesmo. Suas ondas pareciam margear o olhar de Ana derramado. Suas águas traziam o cheiro e o gosto do amor da menina: tudo nele tornara-se salgado. O fenômeno causou estranheza em todos na pequena ilha. Inexplicavelmente, o mar carregava agora azul sob a pele e sal sobre as águas. O mesmo sal do amor da menina. O mesmo azul do olhar outrora derramado."


Maíra Viana

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